30 de out. de 2011

Drive-thru de oração chega ao Rio de Janeiro


Drive-thru de oração chega ao Rio de Janeiro
sexta-feira,21/10/2011 10:56h
“O trânsito estressa… Que tal uma oração?”, sugere cartaz da Igreja Universal do Reino de Deus no templo de cerca de dois mil metros quadrados na Barra daTijuca.
O prédiofica em um dos bairros mais valorizados do Rio, numa região que registracrescimento vertiginoso e dá um ar de Miami à capital. É também a que lançamodismos dos mais inusitados, como festas de casamento para cachorros de até R$12 mil, e a que tem shopping com réplica da Estátua da Liberdade. E é onde maisse encontram serviços delivery, fast foods e atendimentos em sistema drive-thruna cidade. Não há, portanto, de se espantar com essa novidade da fé. Mas queela chama a atenção… isso chama. “Fazemos cerca de 100 atendimentosdiários”, conta o pastor Carlos Azevedo, responsável pelo projeto.
De acordocom a Gerência de Informações de Tráfego da CET-Rio, órgão da Secretaria Municipal de Transportes, a Avenida dasAméricas recebe diariamente cerca de 134.750 veículos (média do movimentodiário em dias úteis) em seu trecho mais movimentado. O fluxo mostra aimportância do caminho, que é o principal para a circulação dos carros entre osbairros da Barra, Recreio dos Bandeirantes e Guaratiba, além de ligar seusmoradores a outras localidades da zona oeste.
Por ser aprincipal – e mais movimentada da região –, a Avenida das Américasconcentra significativa parte do comércio local. São mais de 20 centroscomerciais como o Barra Shopping e New York City Center (o tal da Estátua daLiberdade) e ainda quatro hipermercados de redes nacionais e multinacionais,sem contar os grandes condomínios residenciais e comerciais.
Parachamar a atenção dos motoristas diante de tanto movimento, um grande cartaz comletras vermelhas anuncia o “drive-thru de oração”. A publicidade éreforçada por placas menores, com frases como a do início deste texto,instaladas nas calçadas bem próximas ao engarrafamento. Apesar do apelo visual,são os voluntários, boa parte jovens com idade média de 18 anos, que vãoliteralmente às ruas convencer os mais estressados de que seja qual for oproblema, há salvação – se não para o trânsito, pelo menos para aangústia de ficar retido nele.
“Paracom essa ideia, não tem isso de cobrar”
Há três meses à frente daUniversal da Barra, o pastor Carlos, de 42 anos, afirma que o drive-thru deoração quer garantir a quem precisa um “momento de paz”. O serviçonão é novo no Brasil, mas no Rio é inédito. Há dois anos foi implantado na filialda congregação na Vila Mariana, em São Paulo, depois de ser criado pelacongênere da Califórnia (EUA). “As pessoas vivem na correria do dia adia, sem tempo para nada. O que oferecemos é mais uma forma de comunicação comDeus”, explica o líder religioso. E nada de suspeitas de que a igrejacobra pelo socorro. Pastor Carlos garante: “Para com essa ideia, não temisso de cobrar”.
Na últimaterça-feira (18), entre 19h e 20h05, 14 veículos fugiram rapidamente dotrânsito colossal da Avenida das Américas em busca da palavra no drive-thru dotemplo. “É muito bom, a gente fica com o coração fortalecido depois de umdia cansativo. Saio com a certeza de que estou com Deus”, testemunha omotorista executivo Alexandre Lima, de 48 anos, que seguia para casa emRealengo (zona oeste), acompanhado da mulher, a administradora SolangeFernandes, e do filho Alessandro, de cinco anos.
Nacadeira de criança fixada no banco de trás do automóvel, o menino Alessandro foiungido pelo pastor adjunto que pede para ser chamado apenas de Vinícius, emboranão tenha se importado de ser fotografado. O garoto ficou quietinho durante aoração, que não dura mais de um minuto. Solange, também evangélica, masseguidora da Igreja da Graça, apoiou o pit stop do marido. “Se 10% dosque estão nesse engarrafamento passassem por aqui, certamente ficariam maistranquilos. A oração ajuda a pessoa a se sentir melhor”, afirma.
Rosase azeite
De calça,camisa polo e sapatos brancos (como o pastor titular do templo), Vinícius ouveo pedido do motorista, fecha os olhos, segura o cálice dourado em uma das mãosenquanto com a outra ampara a cabeça do que eles chamam de“abençoado”. Posicionado, ele ora. Vinícius, um jovem pastor de 27 anos,membro da Universal “desde que nasceu”, explica sua missão:“Vem pessoas aqui muito desesperadas. Percebo que basta uma palavra deconforto, uma oração, para que melhorem. É gratificante”, diz. “Temgente que quer só uma oração, tem gente que pede para ungir o carro, o volanteou a si próprio. O que a pessoa pede a gente faz”, acrescenta. Sobre oóleo ungido no cálice dourado, esclarece: “É azeite”. Em seguida,emenda: “Mas a senhora pergunta, hein?”.
EnquantoVinícius ora, um “exército de Jesus” formado por uma tropa de setevoluntários se embrenha por entre os carros para distribuir “rosasconsagradas” e jornais em formato tabloide editados pela congregação doBispo Edir Macedo. Um táxi reduz a velocidade, mas não entra no drive-thru.“Aleluia, irmão”, grita o motorista, satisfeito com um exemplar dosemanário que lhe fora entregue pela janela do veículo. Motoristas de vans eônibus passam ao largo, mas não seguem a viagem sem parar para pegar apublicação. Passageiros dos coletivos abrem o vidro das janelas e, braços parafora, pedem um exemplar. Há os que recusam o papel, mas a tropa evangélica nãose intimida com a rejeição.
Poucodepois das 20h, o drive-thru encerra as atividades. Terça-feira é dia de“cura”, na “Sessão do Descarrego”. “É o dia maisengraçado”, conta o vendedor de uma das três lojas de automóveis vizinhasao templo. “Tem gente que para aqui na porta e enquanto recebe a bênçãocai no chão. A gente fica esperando para ver quem vai cair”, diverte-seuma colega de trabalho que está ao seu lado. Ambos pediram para não serfotografados nem identificados para evitar constrangimentos com a vizinhança.
Alheios aolhares de soslaio, os pastores Carlos e Vinícius entram na igreja, que temcapacidade para 620 pessoas sentadas. “Nosso objetivo é apenas a comunhãocom Deus”, diz Carlos, antes de se despedir. Os obreiros guardam oscones, a tenda montada para o funcionamento do drive-thru (que é feito desegunda a sábado, das 14h às 20h) e seguem para a homilia. Pelos gritos de“cura” da “Sessão de Descarrego”, dá para perceber queo serviço da fé não para.
Com informações do Último Segundo. Site da ADIBERJ

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